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sábado, 30 de abril de 2011

Vinaya Pitaka

O Vinaya Pitaka, a primeira divisão do Tipitaka, é a estrutura de textos sobre a qual se edifica a comunidade monástica (Sangha). O Vinaya contém o código de regras através das quais os bhikkhus (monges) e bhikkhunis (monjas) devem guiar o seu comportamento individual ( o Patimokkha), bem como as regras e procedimentos que suportam o funcionamento harmonioso da comunidade como um todo.
No início, a Sangha vivia em harmonia sem regras de comportamento codificadas. Ao longo do tempo, no entanto, à medida que a Sangha cresceu em número e evoluiu para uma sociedade mais complexa, inevitavelmente surgiram ocasiões em que alguns membros da Sangha se comportaram de forma pouco habilidosa. Sempre que um desses casos era apresentado ao Buda, ele definia uma regra estabelecendo o tipo de punição adequada para aquela transgressão, como forma de dissuadir a sua ocorrência no futuro. A repreensão usual do Buda já era em si um poderoso corretivo:
Não é adequado, homem tolo, não é conveniente, não é apropriado, não é digno de um contemplativo, não é legal, não deve ser feito. Como pode você, homem tolo, tendo adotado a vida santa sob este Dhamma e Disciplina que são bem ensinados, (cometer tal e qual ofensa)?...Não é, homem tolo, para o benefício daqueles que não crêem, nem para o incremento do número daqueles que crêem, mas, homem tolo, é em detrimento de ambos aqueles que não crêem e os que crêem e isso gera a dúvida em alguns. (The Book of the Discipline, Part I, por I.B. Horner (London: Pali Text Society, 1982), pág. 36-7.)
Ao todo, existem 227 regras do Patimokkha para os bhikkhus e 311 para as bhikkhunis. Como as regras foram estabelecidas uma a uma, com base em cada caso, as punições obviamente variam bastante em severidade, da simples confissão (por ex., se um bhikkhu se comporta de forma desrespeitosa) até a expulsão permanente da Sangha (por ex., se um bhikkhu comete um homicídio).
A tradição monástica e as regras sobre as quais ela se apóia são algumas vezes criticadas, em particular no Ocidente, como sendo irrelevantes para a prática “moderna” do Budismo. O Vinaya é visto como um retrocesso a um patriarcalismo arcaico, baseado numa confusão de regras e costumes arbitrários que apenas obscurecem a “verdadeira” essência da prática Budista. Essa abordagem estreita ignora um fato crucial: é graças à linhagem continua de monásticos que consistentemente mantiveram e protegeram as regras do Patimokkha por quase 2.600 anos que temos o luxo hoje de receber os inestimáveis ensinamentos do Dhamma. Se não fosse pelo Vinaya e por aqueles que continuam a mantê-lo vivo até mesmo hoje, não haveria Budismo.
Ajuda recordar que, ao longo de todo o Cânone em Pali, o Buda nunca se refere ao caminho espiritual que ele ensinou como simplesmente “Vipassana” ou “Atenção Plena” ou alguma outra coisa similar. Ao invés disso, ele o denomina "Dhamma-vinaya" - a Doutrina (Dhamma) e Disciplinna (Vinaya) – sugerindo um corpo integrado de sabedoria e treinamento ético. Portanto o Vinaya é uma faceta indispensável e um fundamento de todos os ensinamentos do Buda, inseparável do Dhamma e digno de estudo por todos os discípulos – leigos e ordenados.
Os discípulos leigos encontrarão o Vinaya Pitaka repleto de lições práticas valiosas relativas à natureza humana, orientação sobre como estabelecer e manter em harmonia uma comunidade ou organização, bem como ensinamentos profundos sobre o próprio Dhamma. Mas o seu maior valor, talvez se encontre no poder de inspirar uma pessoa leiga a considerar as extraordinárias possibilidades oferecidas por uma vida de verdadeira renúncia, vivida em harmonia com o Dhamma

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